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BEIJINHO NO OMBRO DO ISAY WEINFELD: UM BATE PAPO COM O TOP ARQUITETO BRASILEIRO
Por Guilherme Amorozo
Falar com Isay Weinfeld nunca foi fácil. Mas, de uns tempos para cá, um dos maiores arquitetos brasileiros em atividade anda ainda mais reservado. Talvez porque não lhe sobre tempo, ocupado que está com dezenas de projetos em três continentes: pelo menos quatro edifícios residenciais em São Paulo; uma nova livraria da vila e uma extensão do Parigi, ambos no Shopping Cidade Jardim; um hotel em Brasília; um instituto cultural em Porto Alegre; um projeto em Viena; um outro residencial em Mônaco; um condomínio em Nova York; um misto de moradia e hotel em Miami – este, especula-se, a ser operado pelo grupo Fasano; e fala-se também de um teatro perto da Avenida Paulista. Sobre os dois últimos, porém, o arquiteto não confirma nada, em respeito aos possíveis clientes. Afinal, se há algo de que não se pode acusar Isay, é de incoerência – o cliente sempre foi, para ele, a razão de ser de seu trabalho. A isso tudo, somam-se os filmetes da série IW Filmes, seu novo xodó, em que retoma, a partir de sua obra arquitetônica, suas raízes como cineasta. Na entrevista a seguir, que escolheu responder por e-mail, Isay dá algumas pistas sobre como vivencia – e aproveita – esse turbilhão.
Casa Vogue: Que o cinema influencia sua arquitetura, sempre foi sabido. O que não se imaginava é o quão bem ela se prestaria a ele, como na série IW Filmes, que você tem lançado aos poucos. Por que unir esses dois ramos da sua trajetória, a essa altura?
Isay Weinfeld: Por puro prazer, não há outro motivo. Essas são as grandes paixões na minha vida: música, cinema e arquitetura – nessa ordem, inclusive. a intenção dos filmes não é documentar as obras e, sim, ver como eu mesmo as enxergo.
CV: Seria o cinema o meio de comunicação mais potente para revelar um lugar a quem não está presente?
IW: Nada substitui a experiência de conhecer pessoalmente um espaço.
CV: Você diz que não se interessa muito por arquitetura. É esse o segredo da longevidade na profissão? Niemeyer adorava dizer que o que importava eram os amigos e as mulheres, e trabalhou até os 104 anos…
IW: Não tenho essa pretensão, mas acho que o importante é seguir enquanto existir prazer.
CV: Você já soma mais de 20 projetos para o grupo Fasano – o próximo a ser inaugurado é o restaurante Parigi no Shopping Cidade Jardim. O que explica essa longa relação?
IW: Uma afinidade muito grande, que levou a uma amizade fortíssima. Mas, profissionalmente, não há amarras.
CV: O que já dá para falar sobre a obra no Shore Club, em Miami?
IW: Vamos restaurar o hotel e refazer os interiores. Já a torre de apartamentos será ampliada.
CV: E sobre o condomínio Jardim, em Nova York?
IW: Trata-se de um empreendimento residencial no West Chelsea, a poucos metros do High Line. Interiores, faremos das áreas comuns, apenas.
CV: É possível afirmar que o escritório vive uma nova fase, algo como uma internacionalização da assinatura Isay Weinfeld? Ou trata-se apenas de uma evolução natural do trabalho
que já vinha sendo feito?
IW: Nem uma coisa nem outra. Aqui ou fora, o trabalho é o mesmo.
CV: Você se vê como um exportador da arquitetura brasileira quando faz obras no exterior?
IW: Eu sou um arquiteto brasileiro e acho que meu trabalho de alguma maneira reflete isso. Não forço, ou busco, uma brasilidade.
CV: Você afirma que não gosta de repetir os tipos de projetos, mas nunca deixou de criar residências. O universo da casa é inesgotável?
IW: Inesgotável, porque as condições sempre mudam de um projeto para outro. A família, principalmente.
CV: Existe algum tipo de projeto que você ainda não fez e gostaria muito de fazer? Qual?
IW: Muitos.
CV: É possível ser feliz vivendo em São Paulo? De que forma?
IW: Sou um otimista. Acho que até isso é possível.
CV: A que você atribui essa recente valorização pela qual passa a arquitetura autoral na cidade?
IW: Acredito que hoje há mais informação, e acho que a arquitetura voltou a ser um valor em si.
CV: O que um arquiteto que pode trabalhar só com o que quer faz nos momentos de lazer?
IW: Descansa.
CV: E para que destinos você tem gostado de viajar ultimamente?
IW: Tenho gostado de ficar em casa.
CV: Que diretores o fazem sair de casa para ir ao cinema hoje?
IW: Lars von Trier, Kim Ki-duk e Woody Allen.
CV: E o que tem tocado no seu iPod, no caminho de casa para o trabalho?
IW: Valesca Popozuda.