Isay Weinfeld

As propostas arquitetônicas e urbanísticas apresentadas nesta exposição procuram traduzir antigos anseios de nossa sociedade segundo uma visão crítica e realista.
Esta cidade é constantemente forçada a civilizar-se, chegando muitas vezes ao ponto de a própria natureza dos habitantes.
Soluções importadas do Primeiro Mundo não encontram respaldo entre a população.
A implantação das faixas de pedestres, por exemplo, é um ato de pura provocação. Elas sempre estão colocadas no lugar errado – onde o pedestre prefere não atravessar e atrapalhando constantemente os motoristas nos cruzamentos.
As pessoas sentem-se humilhadas por terem de andar um ou dois metros com um papel amassado na mão, à procura de um cesto de lixo. Foi pois com a intenção de respeitar o cidadão comum que projetamos as lixovias. Elas transformarão o simples ato de jogar o lixo no chão em um gesto civilizado.
Será que não se percebe que limpar o Lago do Ibirapuera é ferir o equilíbrio ecológico, capaz de provocar incuráveis ataques de rinite alérgica nas gansas já acostumadas com a imundície de suas águas?
Plantar uma árvore é apenas um pretexto para se colocar ao redor anúncios publicitários. Poderia ser um poste, não faria a menor diferença.
Até quando durará o cinismo de nossos dirigentes que insistem na despoluição do Rio Tietê? Daqui a alguns anos, com um pouco de sorte, talvez possamos encontrar dentro do novo rio um robusto salmão, constrangido ao ver através das águas, agora cristalinas, as velhas favelas que o rodeiam.
Qual é o sentido de tudo isto?
Estamos aqui para tentar colaborar humildemente com pequenas sugestões, que aperfeiçoarão a verdadeira vocação desta cidade: o caos.

Isay Weinfeld e Marcio Kogan